quarta-feira, 10 de agosto de 2011

TRECHOS DO LIVRO

             Nazaré, pequena, aconchegante, pacata e campestre cidade, constituída por um comércio muito rudimentar, encravada num vasto cerrado misturado com áreas de caatinga, do interior do Estado do Piauí, com seu anoitecer sempre demonstrando algo de sombrio e misterioso no ar, habitada por pessoas hospitaleiras e atenciosas, onde imperava o respeito mútuo, uma solidariedade incomparável e uma paz celestial, tinha como uma das principais festividades locais os festejos da Padroeira da Cidade, Nossa Senhora de Nazaré, realizados, anualmente, na paróquia da cidade...
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       Ao presenciar tal panorama José sentiu como se um nó comprimisse seu estômago, sentindo-se atacado de ânsia de vômito, e pôs-se a andar de um lado para outro mordendo os lábios, que pareciam anestesiados, com uma força tamanha que começaram a sangrar. Quando já extremamente tenso, não sentindo mais forças para resistir e ficar presenciando tanto sofrimento, saiu como um autômato para a varanda, que recebia uma brisa suave e refrescante, viu a beleza de um céu maravilhosamente estrelado e, de repente, inesperadamente, ficou surpreso ao perceber que uma estrela tinha cortado os céus da cidade de Belém no mesmo instante em que as vacas mugiam e o choro de uma criança era ouvido.
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      Em determinados percursos, algumas vezes bem curtos e outras exageradamente longos, ele os fazia a pé, como aquele que fez pelo Vale do Jequitinhonha e que viria a se tornar o mais misterioso e notadamente marcante de toda a sua viagem.
     Sua caminhada foi iniciada logo pela manhã bem cedinho sob um céu plúmbeo coberto de densas nuvens de bruma seca que, aos poucos, foram se dispersando e deixando que um calor intenso e insuportável fosse atacando todo o seu corpo. Em seu caminhar observou que o solo mostrava, em seu estado de ressecamento, estar fazendo muito tempo que não sentia uma única gota de chuva, e a aridez se apresentava numa grande extensão que mostrava, em seu estado de desolação e desertificação provocado por grandes queimadas, campos que foram exterminados, muitos leitos secos, e alguns raros córregos perenes, que pareciam resistir à uma brutal e prolongada seca, e que, mesmo assim, conseguiam exibir uma bela paisagem mostrando diversas mulheres lavando roupa em seus leitos e que ao mesmo tempo cantavam cantigas que formavam um coro agradável de ser ouvido. Passou por diversos paupérrimos lugarejos onde, em alguns deles, estendiam-se fileiras de vasos, jarros, cumbucas, panelas e outros artefatos, artesanatos de barro e madeira feitos pelas mãos habilidosas dos habitantes da região, que eram vendidos por um preço irrisório.
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     E, em outro momento, revivendo tudo aquilo que tinha observado por onde tinha percorrido nesta sua jornada, como a devastação da natureza e o tamanho do sofrimento dos habitantes locais, principalmente das crianças que apresentavam nanismo e com forte aparência doentia, foi fortemente tentado por satanás para fazer um questionamento sobre a existência de Deus. Deixando-se ser tomado completamente por esses pensamentos e fortalecido pela força irradiada pelo interior daquela mulher foi caminhando e o tempo foi passando, entardeceu, anoiteceu e a madrugada chegou mansamente sem que ele tivesse percebido, mesmo percorrendo a estrada pela escuridão afora. Nesse trajeto, totalmente dominado por alguma entidade demoníaca, ele foi totalmente absorvido por pensamentos nefastos que nem percebeu a exuberância da beleza do por do sol, quando o Astro Rei exibindo toda a sua majestosa imponência foi descendo lentamente com os seus raios avermelhados atravessando por entre as brumas, e se assemelhava a uma indescritível bola de fogo que estava caindo sobre o horizonte distante, e toda essa maravilha de aquarela poderia querer dizer que o Criador estava demonstrando que lhe restava alguma esperança de que sua obra prima, o homem, se redimisse de toda a destruição que já tinha provocado, tanto ao meio ambiente quanto ao seu semelhante, e devolvesse ao local toda a vida, beleza e harmonia original que existia quando da sua criação.


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